segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Em Parte Incerta - Introdução à opinião

Este livro está a confundir-me imenso. Estou num ponto em que nem sei dizer se estou a gostar ou não. Lê-se com grande facilidade, mas não é bem uma degustação, nem um sorver de páginas. É mais “eh, é tão levezinho que desce bem”. É estranho, como se estivesse perante algo que não é muito coeso. Pressinto mais mudanças ainda. Vou tentar explicar de modo a não revelar demasiado:
No dia em que o Nick e a Amy comemoram o seu 5º aniversário de casados, ela desaparece de casa. A sinopse afirma-o, é verdade. Em seguida ele parece suspeito pelo seu desaparecimento (até aqui é apenas uma “leve nuvem de suspeita”). A irmã vai ajudá-lo (até à página 157 ainda não parou de fazer piadolas no bar, mal apareceu).
O livro é um bocado inquietante. O enredo parece realista, contudo são as personagens que se apresentam deslocadas. Estamos dentro da cabeça de Nick e ele não parece desesperado por não saber do paradeiro da mulher. Pensa em mil e uma coisas mas não é assombrado por aquilo que me assombra desde que o meu gato desapareceu. Onde está? O que aconteceu? Estará vivo? Estará morto? A autora vai acalmando esta ânsia do leitor - então mas este homem não quer saber da mulher? - dando a entender que o Nick ainda está atordoado. A irmã avisa-o que devia fazer uma cara mais “preocupada”, mais “desolada”, mas ele diz que ainda não interiorizou bem as coisas. Eu acho que este homem não ama esta mulher. É algo que me entedia nos romances contemporâneos. Pelo quer que seja que se esteja a dissertar, há sempre intervalos para se falar do trânsito, das grandes urbes, das manchas de tomate nos cortinados, da má qualidade dos motéis, dos telemóveis desligados em momentos cruciais.
Quanto à Amy, identifico-me com ela. Ela luta por silenciar a mulher que há em si. Tenta não aborrecer o marido, deixá-lo em paz, não o questionar demasiado. Aceita e respeita a maneria de ele ser, perdoa-lhe os silêncios a respeito de assuntos importantes e as noitadas de bebedeira. Diz que não quer ser uma dessas mulheres que fazem barulheira e amestram os maridos. Esforça-se demasiado e acaba por se deixar perder sempre. Mas esta mulher guarda segredos, sim. Há algo nela que grita por libertação. Vejamos o que vem a seguir.
É a linguagem um tanto ou quanto infantil que me aborrece. O modo como o suposto mistério se intercala com a vida de classe média alta que este casal viveu em Nova Iorque, e a vida bem mais recatada que adoptaram no Missouri. Entendo a Amy, que perdeu as rédeas da sua existência. Vê-se arrastada para uma vida que não é bem a que tinha imaginado, e fá-lo por amor. Mais do que por amor, ela guarda a imagem da relação perfeita dos pais na ideia, e até aqui não fez nada que destabilizasse a harmonia do seu casamento. Submete-se ao que for preciso, e isso trá-la amarga e insatisfeita.
Agora é ver a que é que esse estado leva porque, entretanto, só me pergunto o que é que esta mulher linda, rica e inteligente está a fazer com este idiota egoísta que é o Nick.

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