segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

#177 PLATH, Sylvia, A Campânula de Vidro


Sinopse: «The Bell Jar surgiu em Inglaterra, em 1963 com autoria atribuída a Victoria Lucas. O motivo que terá levado Sylvia Plath a recorrer a um pseudónimo, prende-se com a óbvia coincidência existente entre personagens, eventos e lugares ali descritos, e a realidade biográfica da autora.»

Do Posfácio

Opinião: Tentei gostar. A Sylvia Plath foi-me sempre incontornável. Infelizmente, sinto-me mais compreensiva quanto à sua história de vida (e ao seu desfecho) do que quanto a este romance. Começou lento, nada levava a crer que a personagem principal, Esther Greenwood, acabasse por cair em depressão e a sofrer de insónias e consequentes tendências suicidas. Não entendi de onde isso veio. Gostei do modo como o romance percorre a vida desta personagem com recurso a analepses, o que de início faz crer que a vida dela é perfeita, mas mais para o meio começa a entender-se que tinha uma relação distante com a mãe, e quase no fim finalmente menciona o pai, que morreu quando a Esther era pequena. Esther é escritora e tem um pseudónimo – Elaine. Faz questão de que partilhem o mesmo número de letras no nome. Elaine é Esther e Esther é Sylvia, ao que parece têm imenso em comum. São ambas americanas deslocadas, andaram pelos mesmos sítios e algumas personagens da vida de Sylvia reveram-se no leque de pessoas que, em “A Campânula de Vidro”, vieram cruzar-se com a Esther. Houve até quem viesse a público clamar que a Sylvia mentira quanto a alguns aspectos da sua vida, quando era demasiado óbvio que x na ficção era y na vida real. Acontece que este romance, publicado sob o pseudónimo Victoria Lucas, deve ter sido quase de imediato associado à sua verdadeira autora, porque poucos meses depois da sua publicação, a autora protegeu os filhos do frio londrino como pôde, isolou-os e isolou-se na cozinha e meteu a cabeça no forno. Já por várias vezes tentara suicidar-se, mas dessa foi bem sucedida.

Entende-se que o livro quebre com algumas tendências da literatura da época – diz-se que Sylvia Plath é uma percursora do feminismo pelo modo como, nesta mesma obra, se entende que a mulher deve procurar o sucesso, a carreira, a sua realização pessoal. O casamento surge como uma prisão e um modo de satisfazer apenas os homens, que são descritos como um tanto infantis e pouco dignos de confiança. É esse mundo de oportunidades e de frustrações que traz o caos à vida da menina Greenwood (ou quem sabe na da menina Plath). Não sabe o que fazer, o que escolher. Quando dá por si está no consultório de um psiquiatra, e depois de outro. Está ora a fazer terapia de choques, ora a admirar as cicatrizes da lobotomia da sua amiga Valerie, ou a tomar comprimidos que a arrastam para o limiar da inconsciência. 
Há uma altura mais negra do livro em que a personagem pensa constantemente em suicídio. Analisa todas as possibilidades com a sua mente lúcida e lógica: pondera uma lâmina Gilette nos pulsos, uma faca, nadar até fica sem pé, enforcar-se no laço de seda do robe, atirar-se de uma altura considerável, que garanta que morre e que não fica paralisada e impossibilitada de voltar a tentar. Tudo a desgosta: ler, comer, dormir. Quando se desprende de tudo o que era, sente que se fecha uma campânula de vidro em torno da sua existência, e que não pode respirar. 
Gostava que o desespero fosse mais evidente. A depressão é a doença do pensamento, mas aqui não se entende ao certo o que a desgosta. Aborrece-lhe que seja virgem – é para ela um fardo e um obstáculo no caminho da sua emancipação. Mas fora isso não são apresentados motivos que a angustiem. É apenas um pormenor. É até perigoso procurar-se razões para alguém estar deprimido. Apenas está.
Não deixa de ser um excelente retrato do estado depressivo e, creio, dos tratamentos disponíveis nos anos cinquenta na América para as doenças da mente. 
As metáforas, que lhe são elogiadas no estilo literário – sendo o próprio título uma –, são o meu odiozinho particular na escrita. Tenho procurado afastar-me o mais possível delas. Não gosto de ler, em vinte páginas, duas vezes a menção a “olhou para x como o gato perante o leite”. Ou mesmo a famosa citação: “To the person in the bell jar, blank and stopped as a dead baby, the world itself is a bad dream.” Imóvel, parado como um bebé morto... Não lhe encontro sentido. E por aí fora, era sempre x como y, e a repetição exaustiva deu-me vontade de corrigir o texto e de limar a palha. 
Mas quem sou eu? Nada entendo de literatura, só posso expor a minha opinião sincera, por muitas incongruências que possa apresentar.
Tenho de experimentar ler os poemas dela, talvez me venham mais directos à alma.

Classificação: 3***/**

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