segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

7# A Queda


Título oficial: Der Untergang @ 2004
Realizador: Oliver Hirschbiegel
Banda Sonora: Blutrote Rosen
Actores principais: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara
Classificação IMDb: 8,3
Minha classificação: 6,5
Prémios:
Nomeado para Melhor Filme de Língua Estrangeira (USA),
Nomeado para Melhor Filme de Língua Não Espanhola (Argentina), 
Nomeado para Melhor Actor Bruno Ganz (European Film Awards), etc.
Melhor Filme Estrangeiro (Amanda Awards, Noruega),
Melhor Filme Nacional (Bambi Awards, Alemanha)
Melhor Filme Estrangeiro Independente (British Independent Films Awards)
Etc.

Estive o dia todo de cama, possivelmente com outra das minhas infecções respiratórias e apeteceu-me ver um filme. Die Untergang, ou Downfall, “A Queda”, de 2004, é de realizador alemão, natural de Hamburgo. Eu não sabia muito a respeito da Alemanha ou dos alemães até à minha curta estadia de uma semana em Richtweg, mas uma coisa soube ler nos seus rostos: desolação. Não entendia o porquê do peso que Hamburgo transportava em cada esquina. Toda a cidade parecia nova e cuidada, mas havia qualquer coisa que me mantinha de pêlos eriçados quando caminhava sozinha por aquelas ruas. E então descobri a Igreja e Torre de São Nicolau, o único edifício que parece velho em Hamburgo. Agregado à torre, existe um museu que é, na realidade, uma lembrança viva do que foi o suplício da II Guerra Mundial para os alemães. Em Hamburgo, ofereciam-se jogos de tabuleiro às crianças onde os ensinavam a como se proteger de um raid aéreo. Em Julho de 1943, grande parte da cidade foi arrasada por um raid aéreo – a Operação Gomorrah -, levada a cabo sobretudo por britânicos. Para a Alemanha nazi, desviar a atenção da capital para outro ponto de interesse estratégico como Hamburgo era essencial. Para as pessoas que lá viviam, foi um horror que, mesmo setenta anos depois, continua impresso nos olhares de toda a gente.

É impensável que num mundo esclarecido, num século XX tão prometedor, algumas mentes tenham sido capazes de se sobrepor a outras de modo tão efectivo que causaram a miséria de todo um continente e quase o colapso de uma civilização.
Em “A Queda”, Hitler surge como um velhinho trémulo e orgulhoso, que deixou de fazer sentido e, portanto, de ser obedecido. É educado e cortês, mas sofre assomos de fúria. Recusa-se a acreditar que o seu sonho de uma Europa unida se desfaça assim, com os Russos a sobrevoarem Berlim e a bombardearem o coração do III Reich. Mesmo nos seus últimos dias, o Führer não acredita que vá fracassar. Movimenta esquadrões militares que já pereceram a esquematiza ataques que estão fora de questão. A Alemanha já não se pode defender e os últimos crentes rodeiam-no nas suas horas finais, demonstrando fé na sua pessoa e no ideal de Nacional Socialismo.

Segundo o filme, criação alemã sobre um momento tão significativo para a história alemã, o Füher demonstra um total desrespeito para com os civis e para com a vida humana. Oficiais são executados sumariamente, civis são enforcados, hospitais são encerrados com dezenas de idosos apinhados na cave à espera que os Russos cheguem e decidam sobre os seus destinos. Toda a gente parece pronta a suicidar-se por este ideal e por este homem que lhes pede que o façam, se tudo se resumir a isso ou ao cárcere às mãos dos russos, e mesmo uma mãe é retratada a levar todas as suas crianças a engolir pílulas suicidas. A pastora alemã de Hitler e Eva Braun não se salva ao capitular do Império, sendo mais uma das vítimas inocentes que narram o absurdo desses últimos dias. Os oficiais de patentes superiores suicidam-se das mais diversas formas, sobretudo os membros da SS, que se recusam a cair nas mãos dos Russos. Dizem que não faz sentido "sobreviverem à morte de Hitler".
Destaca-se, ao longo do filme, uma jovem dactilógrafa, Traudl Junge, que só próximo do final se apercebe da loucura surreal que a rodeia e decide que é jovem demais para perecer. Esse gesto não demonstra deslealdade para com o governo, mas sim um despertar do seu alheamento, que a levou a ignorar as atrocidades que eram cometidas pelos nazis.
Todo o filme é povoado de devotos Nacionais Socialistas, sendo que o que os difere é apenas o nível de humanidade que ainda carregam no peito, bem como a sua perspectiva sobre o desperdício da vida humana para uma causa perdida. De resto todas as personagens que circundam Hitler nos seus dias finais são fiéis agentes do nazismo, pelo que não vale a pena verem o filme à procura de qualquer tipo de oposição idealista àquilo que sabemos ter sido a Alemanhã Nazi.

As emoções são um pouco confusas na construção deste retrato dos últimos dias no bunker com Hitler. Sendo este alemão, sobre alemães, os mesmos parecem impávidos perante situações que escandalizariam qualquer pessoa com um mínimo de coração, mas depois as mulheres surgem como criaturas histéricas a berrar por coisas que parecem mínimas. Não consigo, sequer, decidir se gosto do filme ou se o mesmo é bom. Todavia, Bruno Ganz, como Hitler, afigura-se-me sublime. Foi a única personagem que transmitiu emoções coesas. É difícil ler emoções nos filmes germânicos, mas penso que “A Vida dos Outros” esteja bem melhor nesse campo do que “A Queda”.