segunda-feira, 4 de novembro de 2013

6# Capitão Phillips

Título oficial: Captain Phillips @ 2013
Realizador: Paul Greengrass
Banda Sonora: Henry Jackman
Actores principais: Tom Hanks, Barkhad Abdi
Classificação IMDb: 8,1
Minha classificação: 7
Prémios: ~

Quando estudei Psicologia, e mais tarde Ética, lembro-me de abordar um tema delicado. O sacrifício de uma colectividade por um indivíduo, ou de um indivíduo pela colectividade. Ontem, quando saí da sala de cinema, ainda não tinha dissecado o “Capitão Philips” a fundo. Se me perguntassem o que achei do filme, diria: “Foi a América a fazer-se de bonita, heroína e salvadora do dia, como sempre”. O filme é emotivo, por vezes de uma tensão tão aguda que dei por mim a tremer na cadeira também. É violento – às vezes uma troca de olhares, um murro, são mais violentos do que o descarregar de uma metralhadora em alguém. A expectativa de violência também contribui para a mesma.
Hoje, quando me perguntei porque é que não adorei o filme, entendi. Pare de ler agora quem está interessado em vê-lo, porque vem spoilers. O filme é o esmagamento de uma pequena nação, empurrada para a dita violência e para a pirataria e outros gestos desesperados, por uma nação muito maior. É o esmagamento de quatro indivíduos convictos, corajosos – ainda que os seus motivos não sejam os melhores nem o seu incentivo o mais honrado – para promover o salvamento de um quarto. Inocente, sim, mas, à luz das circunstâncias de um país e doutro, também os outros quatro indivíduos eram meras vítimas das circunstâncias.
O que se vê é o debater de um pequeno inimigo – inculto, ingénuo, despreparado, munido apenas de armas de fogo e aspecto feroz – contra um outro incomensurável. A América monta um pequeno teatro de guerra para recuperar o capitão, para se assegurar que o salva-vidas em que segue, refém dos piratas, não abandona as águas internacionais. Fá-lo mecanicamente, como que seguindo um protocolo simples. Abater três alvos, enjaular um quarto, salvar uma pessoa cuja vida se assume mais valiosa do que as outras quatro. Ok, I get it, inocente e tal, estava muito bem na vida dele e os piratas sabiam no que estavam a meter-se mas…
Pronto, já disse o que tinha a dizer. Serei a única pessoa a achar que o filme é sobre o desespero dos Somalis? A falta de opções, de recursos desses pescadores? Serei a única pessoa a achar que o filme não deveria ser sobre o Capitão branco que viveu uma bonita vida e sim sobre os jovens negros empurrados para o seu encalce?
O filme nem sequer se deveria chamar "Captain Phillips". Eu chamar-lhe-ia, apenas, "Captain/s".