quarta-feira, 18 de setembro de 2013

#100 SERAJI, Mahbod, Terraços de Teerão

Sinopse: Este romance de estreia passa-se em Teerão, entre os anos 1973 e 1974, antes da revolução islâmica, ainda sob o opressivo regime do Xá Reza Pahlevi. Nesta obra de inspiração autobiográfica, as figuras principais são dois adolescentes em férias escolares que passam grande parte do verão a deambular pelos terraços das casas da vizinhança... Ali trocam confidências, sonham com o futuro, mas também ganham consciência das realidades mais duras da vida. Intenso, dramático e colorido, Terraços de Teerão dá-nos a conhecer a cultura iraniana, através das vidas de personagens em que nos reconhecemos no mais essencial da experiência humana.

Opinião: Há muito que queria ler este livro. A capa é lindíssima e Teerão soa a uma cidade distante, exótica e problemática. No dia 7 de Junho, em Roma, sentei-me à mesa com um iraniano de Teerão. Disse-me que há muitos milhões de cidadãos durante o dia na cidade, e que todos a deixam à noite quando regressam a casa. Falou-me de zonas no Irão onde a temperatura ascende a 48º, e outras zonas geladas onde é impensável viver-se.

Pouco conheço do Médio Oriente, mas compreendo os conflitos de interesses EUA/URSS do século XX, e o jogo político comunismo/capitalismo. Também entendo o funcionamento de uma ditadura, mas o melhor que este livro me passou foram as pequenas curiosidades a respeito do Irão e da cultura desse povo. Herdeiros dos Persas, têm uma história de sangue e sofrimento, são na maioria Islâmicos e, em 1973, quando o livro tem lugar, são pouco simpatizantes do novo estado de Israel (pós II Guerra Mundial). O livro ilustra o ambiente de repressão e medo pré-revolução iraniana. O Xá impôs-se à população através do apoio prestado pelos EUA. Isto para evitar que o país se dobrasse às ideias marxistas. A ditadura imposta por esse chefe impede que se discuta qualquer assunto político, censura certos livros e proíbe publicações e opiniões adversas por parte dos cidadãos. A SAVAK – polícia política também financiada pelos EUA – é tanto um mito urbano quanto uma sombra de terror a pairar sobre todos. Qualquer suspeita de traição ao Xá, de raiva para com o regime, culmina num aprisionamento aparatoso, isolamento, tortura física e psicológica. Por vezes o prisioneiro é ilibado – a família é exilada e instruída a silenciar o assunto. Outras vezes morre sob tortura, o corpo é devolvido se pagarem “as balas” e enterrado num local desconhecido. A família não pode chorá-lo, visitá-lo nem prestar-lhe luto. Deve esquecer o rebelde e proceder de acordo com o esperado pelo regime.

É neste contexto de opressão intelectual que crescem o jovem Pasha e Ahmed, o seu melhor amigo. Nas noites quentes desse verão, estendem-se no terraço a partilhar as inquietações de amor, os pequenos gestos de resistência ao regime, as histórias dos seus antepassados e as particularidades de carregarem a herança dos Persas. O livro é divertido, por vezes comovente, e a narrativa é fácil de acompanhar. Conta com um leque de personagens inesquecíveis e muito humanas que o pintam de um realismo enternecedor. É um triste conto sobre jovens enérgicos e inconformados, que perdem muito daquilo que lhes é querido, lidam com o luto e a frustração e tornam uma simples roseira num símbolo de resistência ao regime. Comovente em larga medida, peca apenas pela repetição dos raciocínios. Situações passadas, características específicas de personagens/locais, desejos inconfessados, conclusões a que o personagem principal chega, são várias vezes repensados e o sofrimento é uma constante, mas esta recorrência cansa um pouco o leitor mais para o fim.
Contudo é um muito bom livro, uma boa porta de contemplação – e compreensão – para com o Médio Oriente.

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