sexta-feira, 27 de abril de 2012

»Compras literárias para breve

Prioridades de compras literárias

1- Soberba Escuridão, Andreia Ferreira
2- Sob o Céu de Paris, Jorge Campião e Elisabete Caldeira
3- Promessas de Amor, Sherry Thomas
4- O Conde de Monte Cristo, Alexandre Dumas
5- Eu Sei que Voltarás, Mary Higgins Clark
7- O Monte dos Vendavais, Emily Brönte
8- Mansfield Park, Jane Austen
9- Northanger Abbey, Jane Austen
10- Frankenstein, Mary Shelley (wordsworth)
11- O Homem da Máscara de Ferro, Alexandre Dumas
12- As Novas Meninas dos Chocolates, Annie Murray + oferta fnac (A Rainha dos Gelados, Anthony Capella)
14- Moby Dick, Herman Melville
15- Mrs Dalloway, Virginia Wolf
16- The Portrait of a Lady, Henry James
17- Vanity Fair,William Makepeace Thackray
18- War and Peace, Leo Tolstoi
6- Dracula, Bram Stocker
13- The Scarlett Letter, Nathaniel Hawthorne

Os clássicos são da wordsworth, custam entre 2,78€ e 3,09€ na FNAC, em inglês.
Também ando a adiar o momento de comprar estes em italiano:
Come stelle cadenti, Sveva Casati Modignani
Lo Splendore della Vita, Sveva Casati Modignani
Mas o custo de expedição da Fnac deles é 16,00€, ando a adiar...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

#27 PEASE, Lesley - Nunca Me Esqueças

Sinopse: Num dia… Com um gesto apenas… A vida de Mary mudou para sempre. Naquele que seria o dia mais decisivo da sua vida, Mary – filha de humildes pescadores da Cornualha – traçou o seu destino ao roubar um chapéu. O seu castigo: a forca. A sua única alternativa: recomeçar a vida no outro lado do mundo. Dividida entre o sonho de começar de novo e o terror de não sobreviver a tão dura viagem, Mary ruma à Austrália, à época uma colónia de condenados. O novo continente revela-se um enorme desafio onde tudo é desconhecido… como desconhecida é a assombrosa sensação de encontrar o grande amor da sua vida. Apaixonada, Mary vai bater-se pelos seus sonhos sem reservas ou hesitações. E a sua luta ficará para sempre inscrita na História. Inspirada por uma excepcional história verídica, Lesley Pearse – a rainha do romance inglês – apresenta-nos Mary Broad e, com ela, faz-nos embarcar numa montanha-russa de emoções únicas e inesquecíveis.

Opinião: Antes de mais, é preciso informar de que demorei uns quatro ou cinco meses a percorrer a viagem destas páginas. Comecei com o coração nas mãos e a indignação de quem vê o "simples" roubo de um chapéu punido com uma deportação desumana para a Austrália. Depois soube que a Mary Bryant, ou Broad, existiu mesmo e isso deu novo realismo à história. Li a primeira metade do livro de um sopro, a vida a bordo do Dunkirk - o tifo, a imundície, as febres, as intempéries, etc., os actos grotescos de uma das nações que se diz entre as mais civilizadas desde sempre. A partir da última metade, o livro torna-se entediante, aborrecido com pormenores de uma rotina miserável, pobre de alma e de condições humanas. Tanta desgraça junta... Mas enfim, o pior é que a sombra das catástrofes paira sobre todo o livro e esperamos, esperamos e esperamos por vê-la tomar os protagonistas. As últimas cem páginas deviam ter sido resumidas para 25. Achei que o ritmo geral do livro era lento. Ontem consegui tomá-lo pelos cornos e terminá-lo de vez, mas não tenho especial gosto por livros que me sabem a obrigação. Além disso detestei o facto de a Mary ser adorada por todos e de distribuir beijos nos lábios de todos como uma irmãzinha grata a dar esmolas aos tolos enamorados. Dou três porque o livro tem um evidente e trabalhoso cuidado de pesquisa por trás. Teve rasgos interessantes por entre outros que me causaram enfado. Em geral estou feliz que tenha acabado, foi uma leitura custosa e não estou a ver-me a passar por ela de novo.

Classificação: 3***

terça-feira, 24 de abril de 2012

#26 HUNTER, Madeline - Mil Noites de Paixão

Sinopse: Eles não têm absolutamente nada em comum. Lady Reyna é uma mulher virtuosa e erudita, que preferia morrer a quebrar uma promessa ou voto. Ian de Guilford é um sensual  mercenário, um cavaleiro errante cujo temperamento fogoso lhe valeu a alcunha de Senhor  as Mil Noites. Ela não conhecia a sua fama quando, fazendo-se passar por cortesã, transpôs as linhas inimigas com um plano desesperado para salvar o seu povo. Agora está frente a  frente com o guerreiro a cujos encantos, diz-se, é impossível resistir, Reyna percebe-se que subestimou o inimigo. Ele está decidido a tudo para subjugar a sua virtude. A bem do seu povo, ela não pode ceder... e a sua audácia leva-a a fazer algo com que nunca sonhou: pôr em jogo o seu coração.


Opinião: Este livro foi tão confuso, tão rebuscado, tão desinteressante que fui obrigada a ler mais de 300 páginas, para me obrigar a compensar-me pelo investimento nele, e a largá-lo a cerca de 30 páginas do fim. Interesse? Nenhum. A história (não é de estranhar, não tem nada a ver com o que a sinopse promete) anda em torno de Ian de Guilford, uma espécie de mercenário detestável, inesperadamente honrado e piedoso. Nada de estranho aqui.  simultaneamente Reyna não tem voto algum de castidade, tem sim um segredo tolo mas não se iludam, ela só se dá ao trabalho de o repetir uma vez. O segredo dela era quase transparente. Depois o livro cai numa espiral de tentativas de fuga dela, e ele recupera-a. Depois ele vai combater e ordena-a que fique na torre. Ela foge. Ele tem de ir resgatá-la. É absolutamente ridícula toda a história. É maçadora, sem interesse algum. A Reyna é uma idiota e o Ian é um tolo por andar embeiçado por ela. Ainda para mais surgem a Christiana e o David, do Casamento de Conveniência, e são as únicas personagens toleráveis, porque depois também surge Morvan, a dar ordens à mulher, Anna de Léon, e a Anna, sempre a desobedecer-lhe e a meter-se em situações estúpidas.

Deixem-me apenas esclarecer que, neste momento, tenho sete livros da Hunter. Comprei-os todos porque amei o primeiro que li, As Regras da Sedução, que falava na queda financeira de uma família e neste senhor, um cavalheiro, perto dos outros que vão surgindo nos livros dela, que é o Hayden. Esse teve corpo, daí por diante... Oh God, terei que desistir dos romances ditos românticos? A substância perdeu-se.

A Hunter vai de mal a pior... esperava mais da Asa.

Classificação: 1*

sexta-feira, 20 de abril de 2012

»O que a primeira frase de um livro diz do seu todo?..?

Uma vez uma amiga disse-me que tem um conhecido que abre os livros na livraria, evitando fitar a capa durante mais tempo do que o necessário, para que a primeira impressão seja a da primeira frase do livro. Com base nisto, decidi listar aqui as primeiras frases de alguns livros que tenho aqui na prateleira...

1 - «Uma vez, quando eu tinha seis anos, vi uma imagem magnífica num livro sobre a Floresta Virgem chamado «Histórias Vididas», Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho
2 - «Sofia Amundsen regressava da escola.», Jorteein Gäarder, o Mundo de Sofia
3 - «Mary apertou com força o corrimão do banco dos réus quando o juiz entrou na sala do tribunal», Lesley Pearse, Nunca me esqueças
4 - «Quando eu sair daqui, vamo-nos casar na fazenda de minha feliz infância, lá na raíz da serra.», Chico Buarque, Leite Derramado
5 - «Olímpia Vieira era, aos sessenta e dois anos, um osso duro de roer.» Célia C. Loureiro, Demência

Um bocadinho de egocentrismo não me faz mal... eheh.




#25 REBELO, Tiago - Uma Promessa de Amor


SinopseUm jornalista de televisão no topo da fama. Uma criativa de sucesso no mundo da publicidade. Uma repórter cubana que busca a liberdade. Três pessoas movidas pela força de vontade nas suas profissões que perseguem objectivos maiores para as suas vidas incompletas. A perigosa aventura de Luz María a caminho do exílio leva-a a cruzar-se com Lourenço e este não podia imaginar que uma decisão tomada numa ilha tropical iria afectar irremediavelmente a sua vida. Um encontro fortuito numa estação de comboios em Lisboa, um momento de pânico motivado pela perseguição política, atira Luz Maria para os braços de Lourenço quando este vai ao encontro de Isabel. Se num primeiro instante foi apenas por solidariedade que decidiu ajudar Luz María a começar uma nova vida em Portugal, em breve Lourenço vai ver-se envolvido num turbilhão de sentimentos que o irão obrigar a fazer uma escolha impossível entre a mulher dos seus sonhos e a mulher da sua vida.  Autor de enormes sucessos literários, como O Tempo dos Amores Perfeitos, O Último ano em Luanda e o mais recente O Homem Que Sonhava Ser Hitler, Tiago Rebelo apresenta-nos aqui uma história intensa de paixão, amor e amizade, que prova como a felicidade nem sempre se encontra no caminho mais evidente.

Opinião: Tiago Rebelo, Tiago Rebelo…

Talvez deva gabar a perícia que este senhor tem para reconhecer crianças nos homens. É o segundo livro dele que leio e, segundo sei, a fórmula é a mesma. Metem-se duas mulheres ao barulho, maduras e admiráveis, e um homem indeciso como uma criança numa loja de doces. Recorta-se uma cena em duas, mete-se metade no início e metade no fim e tem-se assim uma fórmula “infalível”. Depois é preciso que as mulheres digam que estão fartas de ser espezinhadas, e que o homem seja tão encantador – e encantador é a palavra favorita do autor – que lhe dê a volta no final sabe-se lá como (ele também não se dá ao trabalho de explicar). O que dizer deste romance em específico?
Temos uma mulher (Luz María) presa ao regime cubano – encantadora – que tem um caso quase fortuito com um homem-criança, idiota, atraente, metido por entre todas as saias que passam. Temos essa mulher a quase arriscar a vida para conseguir fugir do país, com a mãe atrelada. Depois temos outra mulher (Isabel) com uma carreira de sucesso no ramo da publicidade, cuja vida já foi inúmeras vezes estraçalhada pelo mesmo homem que ela considera o amor da sua vida, e a quem este Lourenço, também homem-criança, considera o amor da sua. Posto isto, não entendo como é que a mestria deste senhor se mete a enrolar as cabeças das pessoas. A mim parece-me tudo muito simples – ele passou a vida a destruir a felicidade da mulher que diz amar (apetece-me rir pelo facto de ela, aparentemente, lhe ter dado essas oportunidades todas), e então vem a cubana. A cubana, uma mulher admirável, sem dúvida, embora nunca se entenda muito bem o que a move – sem ser o desejo por liberdade, que me parece comum a qualquer ser-humano num regime opressivo – e por quem ele se encanta. E o encantamento é suficiente para, uma vez que não pode tê-la, meter novamente “a mulher da sua vida” na gaveta. Foi o final que me chocou mais quando uma destas mulheres, descritas como fortes e dignas pelo autor, decide aceitá-lo. E desvie agora os olhos quem tiver intenções de embarcar neste mar de frases feitas, informações dispensáveis e evidente falta de empenho do autor.  Mas ela ACEITA-O. Para mim era evidente que o final do livro é cada uma delas a dispensar o idiota do homem, que viveu por entre pernas uma vida inteira, que se despiu da Isabel porque “não estava preparado”, que voltou para ela só para voltar a deixá-la uma e outra vez. Que final mais perfeito, mais adulto, seria este? Desdenhou tantas vezes do doce que devia era ficar sozinho na sua casa “enorme” no Parque das Nações, a beber o típico uísque e a olhar para as luzes da Vasco da Gama. Aí sim, talvez eu admirasse um pouco este livro. Agora um final feliz para um pulha? Uma mulher de personalidade forte a submeter-se outra vez?
Poupa-me, Tiago. Não me convenceste.
Classificação: 2**

quinta-feira, 19 de abril de 2012

#24 MODIGNANI, Sveva Casati


Sinopse: Um casamento em crise: como se a baunilha e o chocolate já não combinassem tão bem como outrora... O grande "clássico" de Sveva Casati Modignani.
O que se passa com Penelope e Andrea após dezoito anos de um casamento quase perfeito? A baunilha e o chocolate já não combinam? Impossível! Desde sempre, apesar do contraste de cores e sabores, fizeram uma mistura fantástica, como algumas uniões afetivas, que vão aguentando, aguentando, como que levadas por um vento milagroso. Mas o vento, às vezes, deixa de soprar...
Inesperadamente, Andrea revela-se protagonista de inúmeras escapadelas mal escondidas e o seu comportamento, por vezes, é tão infantil e egoísta que Penelope decide oferecer-lhe um presente: deixá-lo sozinho a lidar com os três filhos e com as inúmeras tarefas domésticas, que até agora pesavam única e exclusivamente sobre os seus ombros. Quanto a ela, refugia-se na casa da família em Cesenatico. A separação revela-se, para ambos, um desafio cansativo e, por vezes, angustiante, mas a verdade acabará por vir ao de cima: o amor que os uniu continua vivo...

Opinião: Baunilha e o Chocolate é, para mim, o melhor romance de Sveva Casati Modignani. Por muito singelo que seja, sem grandes sobressaltos ou reviravoltas de cortar a respiração. É um romance sobre compromisso e fidelidade. É sobre Penelope, que apaixona loucamente por Andrea, e sobre Andrea que, mesmo amando Penelope, mesmo sendo pai dos seus três filhos, não consegue que ela lhe baste. Pula de saia em saia e, a cada vez que o faz, Penelope é humilhada ao receber o gelado de baunilha e chocolate que ele traz para forçar as pazes.
É apenas quando Penelope se afasta para a antiga villa da sua avó e deixa o marido mimado a braços com a filha anoréctica, o filho cheio de piercings e com uma cobra como animal de estimação e o pequeno e asmático Luca, que Andrea repensa o seu valor na sua vida.
Andrea tem até este ultimato: não a contactar até que ela meta a cabeça no lugar. É uma viagem agradável pela Itália, com um enredo simples mas enriquecedor, no melhor registro de Sveva que, infelizmente, é o que ela aplicou também a todos os outros livros...
 Classificação: 4****

sexta-feira, 13 de abril de 2012

#23 SOARES, Carla M. - Alma Rebelde

Sinopse: No calor das febres que incendeiam a Lisboa do século XIX, Joana, uma burguesa jovem e demasiado inteligente para o seu próprio bem, vê o destino traçado num trato comercial entre o pai e o patriarca de uma família nobre e sem meios. Contrariada, Joana percorre os quilómetros até à nova casa, preparando-se para um futuro de obediências e nenhuma esperança. Mas Santiago, o noivo, é em tudo diferente do que esperava. Pouco convencional, vivido e, acima de tudo, livre, depressa desarma Joana, com promessas de igualdade, respeito e até amor. Numa atmosfera de sedução incontida e de aventuras desenham-se os alicerces de um amor imprevisto... Mas será Joana capaz de confiar neste companheiro inesperado e entregar-se à liberdade com que sempre sonhou? Ou esconderá o encanto de Santiago um perigo ainda maior?


Opinião: O meu plano inicial, ao ultrapassar o meio do livro, era atribuir-lhe um quatro e meio. Ainda assim, quatro. Estava muito concentrada nas interjeições, e embirro com elas porque dão um tom afectado ao discurso, uma espécie de suspiro muito português. As interjeições (tantos ohs, e ahs! e pontos de exclamação!) mantiveram-me longe da literatura portuguesa, mas sobretudo a má qualidade dos enredos e a pobreza de escrita foram os culpados por esse afastamento. Agora, após perseguir ferozmente este livro durante a tarde de hoje (12.04.2012), em que saiu para a luz do mercado, agora... que acabei de o ler, convido todos nós, portugueses e portuguesas amantes de um bom romance histórico, de um um bom nível de português - acessível e bem alinhavado - a embrenharem-se neste livro, que é quase uma viagem contínua. Li-o de enfiada, como se comprova com facilidade. Fala sobre uma rapariga, Joana, cujo pai é rico e despoleta, assim, as ambições de um nobre na miséria, D. Miguel. Este D. Miguel arranja um casamento entre Joana e o seu filho, Santiago, para que com o dote possa reaver um pouco da sua glória passada. 

O que dizer destas personagens? Gosto mais do Santiago que da Joana, é a verdade. Mas parece-me que ela foi escrita para se entranhar, e ele para nos apaixonar-mos à primeira vista. Contudo, no enredo, é o oposto que sucede entre os dois. Ela estranha-o e ele fica vidrado nela. 

Não é o enredo em si que me faz valorizar a história - achei a Joana um pouco queixosa para uma pessoa que tinha a melhor amiga numa situação muito pior - mas sim a humanidade que encontrei nas personagens e, sobretudo, o talento evidente da escritora, que soube valer-se de conta e medida para se manter num terreno seguro. Não dramatizou excessivamente, não caiu em clichés, surpreendeu-me até várias vezes, e agradavelmente, o que raramente acontece quando leio, posto que já li tanta coisa. 

O Santiago é cativante, qualquer mulher o quereria para si. A D. Ana é enternecedora e o D. Miguel é daquelas pessoas frustrantes com quem temos perfeita consciência de que nunca conseguiremos lidar. Considerei todo o desenrolar de acontecimentos bastante pertinente e, apesar de algumas falhas de comunicação entre as personagens principais, a autora teve suficiente mestria para nos fazer compreender, com clareza, o porquê de se compreenderem as asserções de modo oposto. O romance prometia sensualidade e gabo também a elegância, a classe, com que conseguiu envolver-nos nessa sugestão sem cair nas vulgaridades que tenho lido em muitos livros ultimamente. Já me tinha esquecido que, tal como no E Tudo o Vento Levou, meia palavra arrepia muito mais do que uma frase completa à letra. 

Curiosamente, a Joana é a personagem de quem gostei menos. Achei que a Rosália (a ama dela), a dado momento, perdeu-se no enredo, mas adorei a construção geral. Dei por mim a sorrir em diversas partes, dos atrevimentos do Santiago e das explosões da Brites e da doçura da D. Ana. Os desvios de língua da Joana também deram pano para mangas, porque incitaram o Santiago a revelar-se mais. 

Os termos históricos acho que vieram na medida certa. Dei por mim extasiada ante a menção do meu adorado romance Madame Bovary, do Flaubert, e de outras referências históricas que reconheci de imediato porque sou amante da História. O casamento de D. Pedro com D. Estefânia. A América com presidentes e quase, quase em cima da Guerra de Secessão. A inauguração, em 1856, do primeiro troço de caminhos-de-ferro em Portugal. O Brasil e a promessa de uma vida melhor... Nas últimas páginas retive o fôlego, a autora virou o enredo de forma tão convincente que vislumbrei um final alternativo para o livro, vestiu-o de nexo e de credibilidade e deixou-me a arfar por ler mais depressa. 

Em suma, todo o livro foi lido de um só sopro. Os meus sinceros parabéns àquela que considero, sem dúvida, a melhor autora de romances «romance» portuguesa. Destronou a rainha da pop destas bandas (ou rainha da asneira e da futilidade), Margarida Rebelo Pinto (atenção que nunca foi rainha alguma para mim). Um adeus também ao Tiago Rebelo, reforme-se porque não atinge (com o seu jornalismo e quês), metade da perícia com as palavras, metade da profundidade e da complexidade humanas que a Carla expôs. Um triunfo perfeito para um primeiro lançamento. Fico a contar os dias até ao próximo.
Classificação 5*****

segunda-feira, 9 de abril de 2012

#22 WALKER, Alice - A Cor Púrpura


Sinopse: Através das cartas que escrevem uma à outra, duas irmãs negras americanas falam das suas vivências pessoais, dos seus dramas, mas também das suas alegrias, na época que separou as duas guerras mundiais. Obra vigorosa - que levou alguns críticos a comparar Alice Walker com Faulkner - este romance valeu à autora, negra também ela, os dois prémios máximos da literatura norte-americana de ficção em 1983: o Pulitzer e o American Book Award. E deste romance fez Steven Spielberg um filme admirável.

Opinião: Li este livro em Junho de 2006, da última vez que fui à aldeia da minha tia, com 16 anos. É, em parte, devido ao calor das tardes lânguidas que passei a ler, no pátio, que trago lembranças tão boas desta aldeiazinha. O livro é um relato em primeira mão da vida de uma negra no início do séc. XX na América do Norte, e é surreal. Ganhou, inclusive, um Pulitzer. É surreal que, no início do século passado, ainda houvesse segregação. Ainda se tratassem os negros abaixo de cão. É surreal que fosse permitido que a personagem principal, a Celie, fosse arrastada ao sabor das vontades do pai e do marido. Fosse obrigada a abdicar de duas crianças. Fosse obrigada a viver aterrorizada com os humores do marido e humilhada pelo seu amor à famosa cantora negra Shug Avery que, a seu tempo, se torna na melhor amiga de Celie. É um conto ingénuo sobre uma mulher negra no entre-guerras, tantas vezes comovedor, de uma feminilidade tocante e uma mostra inegável do talento da senhora Walker.
Classificação: 5*****

#21 SÜNSKIND, Patrick - Perfume, História de Um Assassino


Sinopse: Esta estranha história passa-se no século XVIII e é fruto de um extraordinário trabalho de reconstituição histórica que consegue captar plenamente os ambientes da época tal como as mentalidades. O protagonista é um artesão especializado no ofício de perfumista, e essa arte constitui para ele - nascido no meio dos nauseabundos odores de um mercado de rua - uma alquímica busca do Absoluto. O perfume supremo será para ele uma forma de alcançar o Belo e, nessa demanda nada o detém, nem mesmo os crimes mais hediondos, que fazem dele um ser monstruoso aos nossos olhos. Jean-Baptiste Grenouille possui no entanto uma incorrupta pureza que exerce um forte fascínio sobre o leitor. O Perfume, publicado em 1985, de um autor então quase desconhecido, foi considerado um dos mais importantes romances da década e nunca mais deixou de ser reeditado desde então, totalizando os 4 milhões de exemplares vendi dos, só na Alemanha, e 15 milhões em países estrangeiros. Foi traduzido em 42 línguas. Este fenómeno transformou-o num dos mais importantes livros de culto de sempre. Em 2006, O Perfume passa a ser uma longa-metragem inspirada no romance de Patrick Süskind.

Opinião: A minha primeira opinião é a de que não deveria ser indicado para o 7º, 8º e 9º ano no contexto do plano de leitura nacional português - canibalismo? Assassinatos? Jean-Baptiste Grenouille é um dos maiores psicopatas de todos os tempos. Mas também dos que melhor se enraizam no leitor. É necessário explicar que ele tem o sentido do olfacto excepcionalmente desenvolvido, e a sua percepção do real advém sempre daí. Ele é completamente obcecado pelo mundo dos cheiros, e é nele em que gravita, indiferente a tudo o resto. Ele é tão egoísta que, quando mete na cabeça que quer criar a essência do amor, não lhe custa nada acabar com a vida de jovens mulheres, umas atrás das outras, a fim de lhes extrair a fragrância que, combinada, culminará nesta poção poderosa, até se tornar numa espécie de serial killer do século XVIII, perseguido por toda a França conforme deixa para trás o seu rasto doentio. E esta essência do amor é tão poderosa que o próprio Grenouille substima os riscos de a aplicar em si. É maravilhoso sermos despertados para a importância deste sentido que é, em geral, tão menosprezado. Foi um festim de fragrâncias, muitas das quais desconhecidas, que se insinuou perante mim, como leitora, e que me embalou ao longo das páginas do livro. O final foi de génio, o único possível, tiro o chapéu ao senhor Sünskind por mergulhar num universo tão sombrio e emergir dele como um dos escritores mais talentosos de todos os tempos, na minha humilde opinião. Quando pego no livro ainda me cheira às alperces que a ruiva carrega.
 Classificação: 5*****

#20 BROWN, Dan - Anjos e Demónios


Sinopse: Quando um famoso cientista do CERN é encontrado brutalmente assassinado, o professor de simbologia Robert Langdon é chamado para identificar o estranho símbolo gravado no peito do cientista. A sua conclusão é avassaladora: a marca é de uma antiga Irmandade chamada Illuminatti, supostamente extinta há séculos e inimiga da Igreja Católica. Em Roma, o Colégio dos Cardeais está reunido para eleger um novo Papa quando se apercebe do rapto de quatro cardeais, ao mesmo tempo que a Guarda Suíça é informada de que uma perigosa arma está na Cidade do Vaticano com o propósito de a destruir. Robert Langdon – quem não o conhece? – ajudado desta vez por Victoria Vetra, cientista do CERN, procura desesperadamente a antimatéria no meio das intricadas pistas deixadas pelos Illuminati, lutando contra o tempo para salvar o Vaticano.

Opinião: Como pessoa que me interesso genuinamente por religião, arte, ciência e viagens, a modos que este livro é um coquetél perfeito destes elementos. O melhor conseguido dos livros do Sr. Brown, segundo os meus gostos pessoais, fala de um intrincado esquema duma suposta organização cinquentenária para atirar a Igreja Católica ao chão por terra. A intriga religiosa, pautada pela visão que a ciência tem do comportamento da Igreja ao longo dos séculos, manteve-me pregada a cada página. As personagens são únicas e vívidas - o Camerlengo foi dos meus favoritos ao longo de todo o livro. A Vittoria e os seus calções são uma imagem nítida ao longo da acção, as igrejas de roma, os seus artistas mais notáveis, as suas obras são esmiuçados de um ponto de vista simbólico e remetem o autor para uma enxorrada de cultura que me deixou extasiada. Foi como reencontrar velhos amigos dentro do livro. É uma óptima intriga que acaba por dar uma pequena lição de História, Arte, Ciência e Religião. Adorei o professor e os colegas de turma.

Aproveito para mencionar que o filme - com aquela banda sonora genial do Hans Zimmer - é igualmente digno de um visionamento.

Classificação: 5****

#19 THOMAS, Sherry - Um Amor Quase Perfeito

Sinopse: Durante dez anos Camden e Gigi, Lorde e Lady Tremaine, tiveram o mais perfeito dos casamentos, baseado na cortesia, no respeito e… na distância. Um segredo, uma traição e um oceano separam-nos desde o dia seguinte ao seu enlace. Gigi vive na bela mansão londrina do casal, enquanto Camden se estabeleceu em Nova Iorque. Nenhum se mete na vida do outro. Agora as coisas vão mudar. Gigi decidiu agarrar-se à sua última oportunidade de ser feliz e aceitar a proposta de casamento do seu pretendente, Lorde Frederick. Assim, escreve ao marido, enviando-lhe os papéis do divórcio. Mas em vez de devolvê-los assinados, Camden apresenta-se à porta da mansão de Londres para lhe oferecer um acordo: vai conceder-lhe o divórcio, mas antes Gigi deve dar-lhe um filho, um herdeiro. Se ela não aceitar, ele não lhe concede o divórcio. Gigi aceita, mas impõe um período de um ano. Um ano em que se acumulam as lembranças da paixão que outrora os uniu, um ano em que segredos são revelados, um ano em que o desejo volta mesmo contra vontade, e um ano em que ambos devem decidir se o casal mais admirado de Londres deve voltar a apaixonar-se... ou separar-se para sempre.

Opinião: Ambientado na última década do século XIX, o livro não é tão cor-de-rosa nem linear quanto a sinopse faz parecer. Pelo contrário, é sobre expectativa e desilusão. A Gigi não é nenhuma santa: era tão doente pelo Camden, quando o conheceu, que fez algo de muito errado para ficar com ele. E é graças a isso (que fere o orgulho dele e) que faz com que ele opte por uma vida separada durante longos anos. Esta separação de duas pessoas que obviamente se amam - mas que têm um fantasma no armário - é comovente e angustiante. Há um trecho do livro em que os dois se cruzam em Copenhaga e em que se reconhecem à distância. Ela está a passear num barquinho de recreio e ficam ambos pasmados ao reconhecer-se. O que mais me interessou neste enredo, super bem conseguido, foi o facto de que ambos reconstroem as suas vidas e enriquecem como pessoas à sua maneira. O Camden mora em Nova Iorque e tem uma empresa de iates. É um ás do desenho e um visionário. Além disso, protagoniza uma das cenas mais tocantes da história dos protagonistas masculinos mais atormentados de sempre: a sua performance nocturna da Dream of Love, Franz Liszt, ao piano. A Gigi mora em Inglaterra e não se deixou ficar sozinha ao longo dos anos que passam separados. Tem muito pouco da heroína habitual, esta teve amantes ocasionais e afogou a dor da ausência na arte. Evolui de uma jovem apaixonada e desesperada, para uma mulher fria e determinada que acaba por dispensar terminantemente a vida dele na sua vida - a fim de evitar mais estragos. Tem as paredes de casa forradas de Monets. Não lhes é fácil recomeçar - nem querem, tão pouco, recomeçar. Só que, quando ela mete na cabeça que o mundo está suficientemente evoluído para que possam divorciar-se sem um escândalo de maior, ele convence-se que só lhe dará o divórcio se, em contra-partida, ela lhe der um herdeiro... Está no topo dos meus romances estilo romance favoritos.
Classificação: 5*****

domingo, 8 de abril de 2012

#18 KLEYPAS, Lisa - Desejo Subtil

Sinopse: Quatro jovens da sociedade elegante de Londres partilham um objectivo comum: usar os seus encantos femininos para arranjarem marido. E assim nasce um ousado esquema de sedução e conquista. A delicada aristocrata Annabelle Peyton, determinada a salvar a família da desgraça, decide usar a sua beleza e inteligência para seduzir um nobre endinheirado. Mas o admirador mais intrigante e persistente de Annabelle – o plebeu arrogante e ambicioso Simon Hunt – deixa bem claro que tenciona arruinar-lhe os planos, iniciando-a nos mais escandalosos prazeres da carne. Annabelle está decidida a resistir, mas a tarefa parece impossível perante uma sedução tão implacável… e o desejo descontrolado que desde logo a incendeia. Por fim, numa noite escaldante de verão, Annabelle sucumbe aos beijos tentadores de Simon, descobrindo que, afinal, o amor é o jogo mais perigoso de todos.

Esclarecimento quanto à série e ao livro: Antes de mais, eu tinha lido este livro em inglês há alguns anos, sob o título Secrets of a Summer Night, o que fazia muito mais sentido visto tratar-se de uma série de 4 livros, cada um alusivo a uma estação diferente e centrado num casal diferente. Uma vez mais, senti-me envergonhada pelo rosto e pelo título que as chancelas portuguesas atribuem a obras inglesas. Eu sei que o romance em si promete alguma intimidade, mas não uma tal que defina a sua essência. Depois permitam-me corrigir esta sinopse ultrajante: se eu não conhecesse o livro sentir-me-ia enganada. As senhoras (Annabelle, Lilian, Daisy e Evie) não usam encantos femininos alguns para caçar um marido. Elas fazem-se, sim, valer dos esquemas conjuntos. Estão todas desesperadas por casar; não porque precisem de um homem, mas porque estão em péssima situação, cada uma da sua perspectiva. Annabelle está sozinha com a mãe e um irmão pequeno e estão enterrados em dívidas, Lillian e Daisy são ricas, mas americanas e, assim sendo, não têm lugar na sociedade inglesa. Os pais massacram-nas e querem libertar-se desse peso. Não podemos esquecer que os livros serão ambientados na década de 40 do século XIX. Evie é maltratada pela tia que sempre cuidou dela, e está prestes a ser forçada a casar-se com um primo asqueroso e facilmente manipulável, que a deixaria, após o matrimónio, na mesma situação de dependência. Este primeiro volume centra-se na Annabelle, que é da aristocracia e está falida e a passar dificuldades, e em Simon Hunt - o filho do açougueiro - que, graças ao talento natural, investiu no progresso dos caminhos de ferro para produzir locomotivas e construiu, deste modo, um império sólido. Na Inglaterra do séc. XIX, convém ter-se boas relações para, mesmo imoralmente rico, se ter as portas da sociedade abertas. Mas Simon despreza a sociedade em geral, nunca se esforçou por se enquadrar, move-se nos círculos mais altos porque se tornou bom amigo de alguns nobres visionários que, tal como ele, estão por dentro do mundo dos negócios. É também mentira que o Simon se aproveite do seu atractivo - ou do efeito que claramente tem sobre a Annabelle - para a convencer a abandonar os seus planos de ficar com um qualquer nobre rico. Ele limita-se a escorregar, com ela, para aquilo que ambos querem. Mas não é dissimulado nem tece planos para a desgraçar. Sedução implacável? Ele nunca se aproxima dela com más intenções. Enfim, toda a sinopse dá a entender que ele consegue que a mulherzinha se enrole com ele num palheiro qualquer numa "noite escaldante de verão", numa infeliz alusão ao nome do livro em inglês, indiscriminadamente posto de parte. Lamentando alongar-me, digo apenas que o meu livro favorito destes quatro é o terceiro, The Devil in Winter, que se centra na Evie, gaga, ruiva, maltratada pela família, insegura e demasiado inocente, e em Sebastian St. Vincent, um visconde que passou a vida entre todas as coxas que lhe cruzavam o caminho e que está na penúria. É que a Evie tem muito a herdar e quer desesperadamente fugir da casa onde é quase uma prisioneira.
Opinião: Pondo de parte as promessas (erróneas) da editora, o livro fala sobre a construção de um amor. Na minha humilde opinião, fala de um homem que não tem problemas em assumir o que quer. E ele quer a Annabelle, só que tem uma reputação péssima e nem a riqueza lhe vale nos círculos da nobreza. E ela quer voltar aos tempos áureos da sua vida, antes de o pai morrer e as deixar na penúria e quase excluídas da sociedade. É por aí que se torna difícil um entendimento. Mas o livro, ao contrário de muitos do género, não é previsível. Ele não surge para a salvar a cada vez que ela tem um desentendimento com alguém. Nenhum dos dois se baseia em opiniões alheias para formar o seu próprio discernimento sobre o outro. Têm os seus próprios motivos - ele para a querer e ela para o manter longe. E então, como é evidente, no momento certo, o livro sofre uma reviravolta e a opinião dela em relação a ele altera-se. Talvez a arrogância deste Mr. Hunt tenha algum fundo de bom-humor. Talvez ele não se ache acima de ninguém ou tenha razão ao desprezar os nobres pançudos que nunca moveram uma palha na vida e que prefeririam morrer afogados a ter que remar para a costa. Resumidamente: foi um livro com alma. Não ficam pontas soltas, compreende-se os porquês daquelas pessoas. Nem tudo se resume a Annabelle e ao Hunt. Há mais do que isso, há uma introdução à picardia épica da Lillian com o Lorde Westcliff (que peca bastante no volume seguinte, porque parece desfazer-se do nada), há uma bonita amizade entre quatro mulheres desprezadas. Gostei bastante e estou ansiosa pelo próximo. Não revelo o nome porque é tão vergonhoso quanto este... mas anda por aí, pelas internets.
Classificação: 4****

quinta-feira, 5 de abril de 2012

#17 MICHELS, Jess - Força do Desejo


Sinopse: Ao entrar na sua sétima temporada sem namorado, Beatrice Albright começa a entender que a sua beleza não compensa a sua personalidade irritável. Na qualidade de mulher desesperada que ninguém deseja, tem de procurar um homem com quem nenhuma outra pessoa casará: o desprezado e misterioso marquês Highcroft, Gareth Berenger. Correm boatos de que ele é um assassino, mas Beatrice tem mais receio de ficar uma velha solteirona na companhia da mãe, do que da obscura reputação de Berenger. Contudo, embora se sinta intrigado pela sedutora proposta da jovem, também ele tem uma proposta a fazer. Dotado de gostos particulares, não casará com nenhuma mulher incapaz de os satisfazer. A sua noiva tem de ser aventureira, sem medo de nada e ansiosa por experimentar todas as paixões e prazeres imaginários, por mais chocantes e proibidos que possam parecer. Se Beatrice concordar em tentar a experiência - se conseguir eliminar todas as suas inibições - os dois casarão. Por conseguinte, os dados estão lançados enquanto Beatrice e Gareth embarcam num percurso erótico onde o perigo os espreita a cada curva, rumo a um mundo de êxtase, onde nada é proibido… nada é negado.

Opinião: Está bem, admito - eu estava a pedi-las. Apaixonei-me pela capa - detestei o nome - e, tendo ouvido falar do “Tabu”, fiquei com interesse em ler este desta senhora. Há muito que o romance histórico se tornou o meu género favorito. Geralmente, mete assim umas cenas mais quentes pelo meio, mas tem alguma alma, alguma sensualidade por antecipação, por contenção. Gosto dos contrastes das classes sociais - dos cenários das grandes mansões inglesas, da decadência da aristocracia e do progresso. São, quase sempre, passados no séc. XIX. Temos uma nova burguesia a ascender e a nobreza a arrastar-se nas suas propriedades decrépitas só com o orgulho e a ambiação a animá-los. Gosto das reviravoltas que este cenário permite, e algumas autoras conseguem-no muito bem. A Sherry Thomas é das minhas favoritas - Um Amor Quase Perfeito é, de facto, perfeito dentro do género. É emotivo q.b., sensual q.b., é informativo quanto à história, à sociedade, às vivências da época. Fala até de arte.

Este Força do Desejo, contudo, é o pior que jamais li do género. Encomendei-o pelo site da FNAC e, quando chegou, vinha com o preço colado sobre a mensagem inédita: Aviso: este livro pode conter descrições explícitas de cariz sexual. Escusado será dizer que voltei a colar-lhe o preço. Tomei conhecido de um tal BDSM, que me era desconhecido na literatura (e que passava bem sem ter conhecido) - Bondage, Discipline, Submission and Domaine (ou SM para Sado-Masoquismo). Basicamente, o enredo do livro descreve-se do seguinte modo: Beatrice conhece Garreth e está desesperada por se casar. Garreth diz-lhe que se casa - são ambos ostracizados, ela porque é uma intratável e ele porque se diz que matou a primeira mulher - desde que ela lhe dê (na cama!) tudo o que ele quiser. Começa por ser ridículo, mas ligeiramente compreensível - o senhor gosta de mesas forradas a couro, chicotes, torturas físicas e sexo anal. Ela - e porque se deve confiar em qualquer pessoa que é presumível de ter assassinado a primeira mulher - aceita. Bom... neste ponto eu já estava a dar em doida com o romance.

Quando a “brincadeira” começa, fiquei ainda mais chocada. O livro é, como já li referirem-se-lhe, sexo, sexo, sexo. Ou estão a fazê-lo, ou estão à mesa, às refeições, a falar dele.

O pior é o facto de que nenhum dos dois parece ter alma. Mesmo quando a autora já dá palpites óbvios sobre ele gostar dela, continua a dizer-lhe que só se casa se ela lhe der tudo o que ele quiser na cama. São bastante incoesos.

Enfim, eu podia abster-me de fazer crítica a este livro, mas acho que isto origina uma reflexão maior. A Quinta Essência meteu-me este livro no colo. Voou como passatempo em blogues. Veio com oferta exclusiva no site da FNAC. Pelo resumo, ansiei por lê-lo. E depois...? Lamento que a literatura esteja a cair nisto. Quanto a mim, foi uma leitura leve que me chocou diversas vezes pelo absurdo (BDSM não é a minha onda, não é que eu tivesse dúvidas), pelo quão explícitos foram os envolvimentos desse cariz, pelo vazio das personagens, pela inutilidade - mal disfarçada - da história perante o pretexto nítido daquelas páginas. Fica na minha prateleira como um livro que, honestamente, não aconselho e que tem um aspecto bastante inofensivo.
Classificação: 2**

quarta-feira, 4 de abril de 2012

»O tempo dos livros bons


Será que, por esta altura, já esgotei o grosso dos livros bons? A verdade é que, ou eu mudei muito que pensar em Como Água para Chocolate, A Cidade dos Deuses Selvagens ou Cinco Quartos de Laranja, me sabe a um passado feliz, quase à doçura da entrada na adolescência, ou estes foram, de facto, alguns dos melhores livros que li e cuja intimidade me envolveu até hoje. Tenho saudades de ter vontade de ler Isabel Allende. A Joanne Harris, por seu turno, levou-me por uma França deliciosa. Chocolate e o significado da Quaresma, o pitoresco de uma aldeia francesa e uma personagem chamada Vianne com sapatos vermelhos. O vento do Norte e um canguru chamado Pantoufle. A Praia Roubada e a areia nos pés do Flynn. Valete de Copas e Dama de Espadas, o sentimento da penumbra, a valeriana a ser despejada pela garganta da principal, administrada por um marido maldoso. Esse mesmo marido a pintar a jovem esposa como se fosse a bela adormecida. Uma frieza palpável nesta relação. Vinho Mágico e uma garrafa de tinto de qualidade, o seu perfume frutado, a narrar uma história que entretanto esqueci. A Praia do Destino, e o hálito a hortelã de Catherine. Um Momento Inesquecível e Nicholas Sparks, noutra vida, capaz de me surpreender. Uma Promessa Para Toda a Vida e uma morte acidental por atropelamento. O Sorriso das Estrelas  e a Adriane a depilar-se para uma noite que promete. Laços Que Perduram e Julie a ser perseguida por um tolo que vê nela a ex-namorada que matou. O primeiro cheirinho à Irlanda em Herança de Vergonha, da agora tão conhecida - e rebatida - Nora Roberts.  A Filha da Fortuna e a atribulada viagem da rapariguinha - Isabel, arrisco? - num navio, de Santiago do Chile para a Califórnia no séc. XIX. Os livros tinham outro cheiro, outra intensidade. Até o Chanel nº 5 das personagens da Sveva Casati Modignani não me aborrecia - ainda não o tinha lido repetido noutras obras da mesma. Estes são só alguns dos livros que me souberam bem por motivos diversos. Tenho saudades de pegar num livro do qual não queira sair. Mesmo o Stieg Larsson arrancou 5***** que não sabem às 5***** de um Lolita. Estes romances que menciono não merecem todos 5*****, mas fizeram-me feliz a seu tempo. Li-os de barriga no chão, li-os estendida na cama, durante as férias. Li-os quando me disseram que, provavelmente, me iam aborrecer. Tão Veloz Como o Desejo a ser posto de lado, mais tarde recuperado e a Laura Esquível a consagrar-se das minhas favoritas. Luz María (Lucha) e o marido, Júbilo, acamado e apegado ao telégrafo e ao Código Morse. Será mesmo de mim? Ou será que consigo relê-los e voltar aos mesmos sítios e às sensações felizes que me proporcionaram? Bom, o E Tudo o Vento Levou conseguiu isto e muito mais. Preciso de ser feliz através da escrita. Estes bebés ajudaram a consegui-lo. Tantos deles nem de amor falavam... Sem pesquisas no google, isto é o que me recordo deles.

Para quando o próximo romance inesquecível?

#16 AUSTEN, Jane - Persuasão

Sinopse: O enredo gira em torno de Anne Elliot, filha de Walter Elliot, baronete de Kellynch Hall, a qual sete anos antes dos eventos narrados no romance, apaixona-se por Frederick Wentworth, inteligente, ambicioso, mas pobre, e é impedida pela família de contrair matrimônio com o mesmo. Tal rompimento foi feito sob a interferência da viúva Lady Russell, que não via vantagens no casamento com um homem sem tradições e sem conexões familiares importantes, temendo um futuro incerto para Anne.


Opinião: Não me recordo do Persuasão tão bem como do Orgulho e Preconceito, talvez porque tenha lido este duas vezes e visto o filme outras dez. Persuasão, embora pessoalmente classificado ao mesmo nível que a obra-prima de Jane Austen, é o meu favorito. A Jane Elliot é um patinho feio e o Mr. Wentworth é um homem meio atormentado. Não se trata da simplicidade de uma história de amor - conhecem-se, ultrapassam obstáculos, ficam juntos. A Jane e o Wentworth não ultrapassaram os obstáculos. Ele quis viver a sua vida no mar, a bordo de um navio, e explorar, viver pelos seus ideais, enquanto pudesse. Confiou que ela esperaria. Por orgulho, ela considera que a oportunidade dele expirou. Também a idade dela para casar expirou.


É sobre um recomeço tardio, um segundo arranque da vida, quando estes dois se reencontram por entre o dia-a-dia das suas rotinas. Emocionante. O meu favorito da Austen.

Classificação: 5*****

#15 AUSTEN, Jane - Orgulho e Preconceito


Sinopse: As cinco irmãs Bennet, educadas pela mãe para encontrar um marido, ficam muito entusiamadas quando descobrem que Charles Bingley, estupidamente rico, e os seus sofisticados amigos vêm passar o Verão numa mansão vizinha. Charles apaixona-se pela primogénita, Jane. Lizzie, a segunda mais velha, que tem inúmeras razões para não se casar, sente-se intrigada em relação a Darcy, o melhor amigo de Charles. Este par improvável de natureza semelhante é então dividido pelo próprio orgulho e preconceito...


Opinião: O que dizer do Orgulho e Preconceito? É um romance intemporal. 
Elizabeth Bennet é uma de cinco irmãs. A mãe sabendo que, legalmente, as filhas não podem herdar a propriedade que habitam, está desesperada por casá-las. Será fácil com Jane, que é a beleza do condado, mas quanto à espirituosa, amante da liberdade, inconvenientemente inteligente, Lizzie? Quando Jane se apaixona pelo visitante, Mr. Bingley, Lizzie é inevitavelmente arrebatada - de formas contraditórias - pelo seu bom amigo Mr. Darcy, incrivelmente rico e snob. 

É um romance sobre erros de julgamento. Más primeiras impressões ultrapassadas. Amor construído, perdão, arrependimento, orgulho e algum preconceito. É delicioso o modo quase ingénuo, mas arguto, como a Miss Austen expôs a sociedade inglesa no início do séc. XIX.

Lizzie e Darcy são um casal imbatível.

Classificação: 5*****